
Intensa como toda boa escorpiana, Sandra Helena Mazzocchi tem o dom da transformação, e é nessa alquimia entre que ela costura sua história. A filha de Afonso (in memoriam) e Amabile Baldessar Bilessimo, aprendeu desde cedo a valorizar o que tem essência e significado. Casada com Carlos Roberto Mazzocchi, há 36 anos, com quem compartilha os bons momentos, é mãe de Rafael, 35 anos, e Júlia, 31, grandes amores que também a atravessam em forma de força e delicadeza. Psicopedagoga e psicanalista por formação, empreendedora por natureza, encontrou na moda circular um espaço de estilo e resistência no Sandra Mazzocchi Second Hand, instaurado no quinto andar do Edifício Royal Park. Entre araras e memórias, ela é a porta-voz de registros que ainda têm muito a explorar.

Qual a sua primeira lembrança marcante com a moda? Foi aos 13 anos, quando comprei a revista Manequim com meu próprio dinheiro e mandei fazer uma camisa xadrez com gola franzida e uma calça combinando. Me senti dona de mim, vesti esse conjunto até não servir mais. Foi o primeiro momento em que percebi que a roupa poderia traduzir uma emoção.

De onde surgiu o desejo de empreender com moda circular? Da minha própria história: cresci usando roupas de irmãos, adaptadas, cheias de afeto. Fui modelo, consumi moda sem propósito por anos, até perceber que peças com história, íveis e autênticas sempre me encantaram. O second hand nasceu desse reencontro comigo mesma e com o desejo de propor uma moda mais consciente. O apelo pelo consumo rápido ainda é forte, mas há um aumento da consciência sobre seus impactos ambientais, sociais e psicológicos.

Existe um "olhar Sandra" em sua curadoria? Com certeza. Escolho peças que me tocam, com design atemporal e potencial de reinvenção. São escolhas afetivas e intuitivas, que misturam beleza, autenticidade e a história por trás de cada roupa. Sempre penso em quem acompanha o brechó, mas sem abrir mão da minha essência.

Então acredita que roupas carregam memórias? Profundamente. Guardo chapéus de feltro como joias, porque me lembram a elegância do meu pai. Roupas podem ser extensão da nossa identidade, um elo com lembranças e afetos são como pequenos arquivos vivos do que já fomos e do que desejamos ser.

Como vislumbra o futuro da moda? Vejo a moda como ferramenta de transformação, e o meu espaço de fomento ao second hand como parte de um movimento silencioso, mas potente. Para o futuro, desejo ainda mais diversidade, com peças do mundo todo e um público cada vez mais desperto. A moda pode e deve ser libertária, não um escudo.

No closet de Sandra:
- A maior lição que aprendi… que a vida é feita de instantes simples, e que, no fim, são eles que nos mostram o verdadeiro significado de tudo.
- Sobre autoimagem… é poesia visual.
- Me sinto realizada quando… olho para trás e percebo que aquela estrada de chão batido, cheia de pedras e desafios que andei por muitos anos, se transformou em um caminho bonito, que me conduziu a trajetos ainda mais belos.
- Autenticidade é… ser eu por mim mesma. É me permitir existir com verdade, respeitando quem sou, sem medo do julgamento alheio.
- Se eu pudesse resumir minha missão, seria… estou sempre pronta a oferecer o melhor para mim, para os meus e para quem precisar.
- Um livro que me inspira: Menino do Mato, de Manoel de Barros. Me identifico muito com os textos e cada palavra, uma delicadeza imensa e um olhar muito puro sobre a natureza e as coisas simples da vida.